Um encontro com o futuro, por Ozires Silva
Escrevo este artigo sob a forma de caráter pessoal e espero daqueles que não compreenderem a razão, que aceitem meu antecipado pedido de desculpas. A razão é que recebi uma lição de vida que muito me estimula para o futuro, e não deixaria de tentar passar a todos o que aconteceu.
Fui convidado, como muitas vezes, para fazer uma palestra, para jovens. Desta vez era para alunos ligados ao Instituto Fernand Braudel de Economia Mundial, de São Paulo, uma iniciativa pioneira formada em 1987 por um grupo de economistas, empresários, lideranças públicas e jornalistas, buscando formas de superar obstáculos que inibem o desenvolvimento humano do Brasil e da América Latina. Embora ambicioso, o projeto caminha bem!
O Instituto visa estimular a criatividade e liderança, conduz pesquisas e ações sociais que almejam soluções para os problemas que afetam nosso continente. O nome Fernand Braudel é o de um grande historiador francês, um dos fundadores da Universidade de São Paulo (USP), e seu trabalho celebra o poder do mercado como força no desenvolvimento humano.
Convidado para a palestra, procurei prepará-la com cuidado e achei que deveria abordar o assunto sob o título “O mundo no qual você vai viver”, entendendo que seria muito apropriado para pessoas que no futuro estarão trabalhando em um mundo impulsionado pela globalização das comunicações, da economia e dos mercados.
Procurei chegar um pouco mais cedo e… surpresa! A audiência era somente de meninos e meninas, ou melhor, de jovens entre 13 a 16 anos, diria que sentados em forma de círculo. Ficaram me olhando quando aceitei o convite de me sentar quase no centro da roda de potencialmente atentos ouvintes. Prontamente decidi abandonar a palestra formalmente preparada e me entregar a uma sessão de perguntas e respostas, ou seja, um debate, sendo de um lado um cidadão caminhando para o ocaso da vida, e de outro uma pequena multidão de construtores do futuro.
O Instituto tinha dado a cada jovem um exemplar de um dos meus livros, ‘Cartas a um Jovem Empreendedor’, escrito em 2005 para estimular o espírito criativo e inovador necessário ao jovem que deseja empreender e começar a fazer algo que seja novo. Os jovens da audiência tinham lido a obra e senti que todos desejavam fazer perguntas. Assim, senti a iniciativa de fugir da palestra formal e abraçar uma sessão de conversas.
Logo de início me vi diante de algo realmente diferente – e emocionante -, que, naquele instante quase mágico, tinha me sido proporcionado, sem nenhum planejamento, nem pensamento prévio. Simplesmente aconteceu! Os jovens, ainda no começo da jornada de formação de suas vidas, com a espontaneidade característica de quem ainda não conhece as limitações nem sempre sensatas da sociedade humana, levantavam as mãos até que fossem atendidos. Devagar, o clima tomou conta de todos. Perguntas se sucederam, entre elas muitas colocações pessoais: “Como foi possível?”, “O que foi feito?”, “Como se sente após tantos anos?”… e assim por diante!
Foram quase duas horas de conversa, das quais jamais me esquecerei. Todos educados e atenciosos, esperando sua vez, prestando uma atenção inusitada para com alguém presente que, com uma expressiva diferença de idade, procurou voltar aos tempos de criança! Sei, meus caros leitores, que não poderia lhes transmitir tudo através deste texto. Mas algo posso lhes contar: foram momentos de emoção e de alegria, vendo naqueles jovens um real encontro com o futuro!