Artigos

Retornar às décadas de 50, 60 e 70, por Samir Keedi

Quem viveu nos anos 50, 60 e 70 deve estar desesperado. Não entende o que vem acontecendo com nossa economia durante os últimos 31 anos. Era feliz e não sabia. Como tudo, só se dá valor depois de perder. Naquelas três décadas, o crescimento apresentava-se como questão natural. Como ocorreu nos últimos anos com o Chile, China, Coréia, EUA, Hong Kong, Índia, Taiwan, etc. Muitos insistindo em crescer desvairadamente. Como tem feito a China agora. Que cresce em meio às crises. Como gostaríamos de crescer em tempos de bonança. No momento, baixando seu crescimento da extraordinária média de 10% nas últimas três décadas, e de cerca de 11% na última década, para “irrisórios” 9% (sic). Pode até baixar para 6/7%. O que ainda é muito bom.

 

Quem é da época, ou se deu ao trabalho de ler e conhecer um pouco do nosso passado, o que é saudável e desejável, sabe que a economia crescia. Havia emprego à vontade para todos. O consumo estava sempre aquecido. As pessoas caminhavam para a frente. Ao contrário das últimas três décadas, em que se anda quase de lado. Com muitos que conhecemos tendo condições piores de vida do que antes. Quanto aos aposentados então, nem se fale da corrosão das aposentadorias. A FIB – felicidade interna bruta (sic) era bem maior.

 

Hoje se diz o tempo todo que a classe média vem aumentando gradativamente. Que nunca foi tão grande. Sim, mas o que se considera classe média? Um mero salário acima de um salário mínimo já é classe média. Vergonhoso. E, muitos estão nela não por méritos. Mas, por medidas eleitoreiras como bolsa-esmola. Assim, ainda temos que ouvir o governo dizer que a pobreza está diminuindo. Na realidade, está havendo um nivelamento por baixo.

 

Para se entender o que estamos dizendo, basta verificar as taxas de crescimento daquelas décadas. Nos anos 50, com exceção do ano de 1956 que apresentou expansão econômica de apenas 2,9%, as menores taxas foram de 4,9% e 4,7% em 51 e 53. Todos os demais anos mostraram crescimento acima de 7%. Sendo que quatro deles com taxas acima de 8%, com pico de 10,8%. Média da década, de 7,4%.

 

Nos anos 60, embora tenhamos tido 0,6% em 1963 e 2,4% em 65, a década foi boa. E tivemos quatro anos com taxas acima de 8%, com pico de 10,4%. Média da década, de 6,2%. Nos anos 70 tivemos crescimentos excepcionais. Com taxas variando entre 4,9% e 14%. Com seis anos apresentando taxas acima de 8%. Média da década, de 8,7%.

 

Portanto, como se vê, de fazer inveja até a economia chinesa. Que cresce há 33 anos na média de 10% ao ano. E na década passada a 11%. A partir de 1981 entramos na atual situação de alternância entre a estagnação, estagflação, recessão e parco crescimento. Com média de crescimento de 2,6% ao ano nesses 30 anos, até 2010. Apresentando vários anos recessivos. Com as três décadas podendo ser chamadas de décadas perdidas, literalmente. E não somos nós que dizemos, mas os indicadores oficiais. Do IBGE.

 

Assim, ninguém que tenha menos de uns 45 anos, e que entendesse algo de economia, viu o País crescer verdadeiramente. Simplesmente trocamos de posição com a China, e no mesmo período. Lá temos um dragão, aqui um gatinho, e muito feio. E ainda temos gente que acha que está tudo bem, e que os anos 60 foram ruins. Em que até golpe militar tivemos por conta de um princípio de década de 60 não tão alentador. Alguém reagiu. Embora não fosse bem quem gostaríamos que fosse. O povo. Que continua dormindo em seu berço esplêndido. Pobre Brasil. Em que o erro já começa pelo Hino Nacional.

 

E até hoje ainda temos gente que critica o maior presidente da história republicana brasileira. O mais que saudoso Juscelino Kubitscheck. Que deve estar se revirando no túmulo, com tudo que se tem feito no País ultimamente. E ainda há quem ousou, isso mesmo, ousou se comparar a ele. Que Deus nos proteja e que JK nos perdoe.

 

É bom lembrarmos aos que não o conhecem, ou não se lembram, e nem se deram à fantástica chance de ver a sua história levada ao ar pela Rede Globo, em “JK”, há alguns anos. Que Juscelino não estava preocupado consigo ou com a falta de recursos. Mas com o País e com o que precisava ser feito. Sua preocupação e prioridade era o País e o povo. E não mesquinharias. Um político que cumprimentava seus adversários políticos e se colocava à sua disposição.

 

Enquanto ele fez 50 anos em 5, como se costuma dizer, e que é verdade, os seus sucessores fizeram 5 anos em 50. E não foi às custas de um endividamento desvairado como se costuma dizer. Acusando-o pela nossa alta e quase impagável dívida externa que tínhamos nos anos 80/90. Segundo lido na grande imprensa há algum tempo, a dívida externa brasileira, no início de seu governo, era de 2,5 bilhões de dólares norte-americanos. E, no final de seu governo, de apenas 3,2 bilhões. E ainda assim construiu Brasília, mudou a capital, industrializou o País, ocupou o centro-oeste e o norte, e deu nova face ao País. E em 1948 a carga tributária era de 13%. Hoje 36%.

 

Como se vê, não foi ele que destruiu ou entregou o País como alguns costumam dizer sobre governantes que fazem a política das grandes corporações internacionais. Bertrand Russel: A principal causa dos problemas do mundo de hoje é que os obtusos estão seguríssimos de si, enquanto os inteligentes estão cheios de dúvidas.

 

Artigo divulgado no jornal DCI em 12 de janeiro de 2012

 

Samir Keedi é economista, especialista em transportes internacionais, professor e autor de vários livros sobre Comércio Exterior, Transporte e Logística.