Artigos

Quando começa?, por Samir Keedi

Crédito: (Divulgação)

Todos aqueles que militam há décadas no comércio exterior devem estar se perguntando a mesma coisa. Que importância teve alguma vez, na nossa história, essa atividade? A resposta é uma só: quase nenhuma. Se analisarmos o nosso comércio exterior, veremos que ele representa 1,3% das transações internacionais de mercadorias. Quer dizer, US$1,30 de cada US$100.00 comercializados no mundo. Tomando a China como referência, em 1980 nós éramos 0,98% e eles 0,88%. Hoje somos 1,3% e eles 11,1%. Isso porque nosso comércio exterior quintuplicou em relação ao final da década de 1990.

 

O fato nos coloca em duas situações. Por um lado, numa posição altamente desconfortável e, por outro, em condição “privilegiada”. Com nosso ínfimo comex, temos campo para crescer. Em especial considerando que, na comparação com nosso próprio PIB, o comércio exterior significa pouco mais de 20% dele. Na média mundial, é de 50% do PIB. Há países com bem mais que isso. Em qualquer situação, portanto, estamos muito aquém do possível.

 

A preocupação, em nosso modo de ver, justamente por este tipo de “privilégio” e até paradoxalmente, é que não parecemos estar muito interessados no desenvolvimento de nossa economia. Nem na geração de empregos. Até porque o governo divulga, teimosamente, que praticamente não existe desemprego no País. Mesmo ele sendo alto, conforme mostramos em outro artigo há pouco tempo. O governo não parece querer olhar nem para o bem-estar da nossa população, como nos últimos 33 anos têm demonstrado cabalmente. Não crescemos, efetivamente, desde 1981. Nesse período, nosso crescimento médio anual é de 2,5%. No atual governo, até mais baixo, de 2%.

 

O que pode estar ocorrendo com nossos homens de negócios? Será que o desânimo chegou a tal ponto que não há mais como reagir? Ou será devido á nossa selvagem taxa de juros, a maior do mundo em termos reais? Ou talvez a carga tributária, também a maior, considerando nosso PIB? Tudo isso junto é um bom motivo. Mas devemos nos calar, nos fechar e não fazer nada? Será isto que a Nação espera? Subserviência total ao governo, sem ir para cima e exigir condições de trabalho, produção e competitividade? E que o governo olhe para a nação e seu povo, ao invés de seus próprios interesses?

 

É perceptível que o governo nada tem feito para solucionar os problemas, ou minimizá-los. Quantos profissionais de comércio exterior há em postos chaves no governo? Quando o Mincex – Ministério de Comércio Exterior, que já pedimos inúmeras vezes, será efetivamente criado? Em especial a partir do que já existe que é a Camex – Câmara de Comércio Exterior, que também já nomeamos várias vezes? Só queremos que todos “remem” para o mesmo lado, o mesmo ocorrendo com todos os outros modos de transporte. Navio, aqui , é apenas uma figura de linguagem.

 

Acabamos de sair de um evento estupendo, que é a Intermodal, cujo objetivo deveria ser o sonho de qualquer empresário, publicitário, governo. E, no entanto, o que fizemos pelo nosso comércio exterior em nosso tempo de vida? Não seria a Copa do Mundo a grande oportunidade de mostrarmos a milhões de pessoas os nossos produtos, através de degustação, exposição, oferecimento ao público, etc?. Será que é isso que veremos na “nossa Copa”? Que grande oportunidade, provavelmente, será perdida! Em especial com a nossa Seleção estando tão acreditada. Quem fizer isso, certamente, terá grandes ganhos. Devíamos lotar o entorno de nossos estádios com nossos produtos.

 

Por que não ter estampados na camisa amarela produtos brasileiros? Que tal um ramo ou pé de café? Ou o desenho de um avião? Ou um frango estilizado? Mas, certamente, nada disso acontecerá, como nunca aconteceu. Nossa entidade máxima do futebol, empresários em geral, governo, não parecem ter os mesmos interesses a respeito do País.

 

Claro está que nossas matriz de transporte e infraestrutura teriam de mudar radicalmente para isso. Assim, continuaremos os mesmos de sempre. E sempre acreditando que Deus é brasileiro. Pode até ser, e deve ser mesmo, considerando que ainda existimos. Mas, precisamos ter cuidado. Deus ajuda a quem cedo madruga, diz o ditado. E agora, também o Papa é argentino. O que pode significar alguma coisa. Como estarmos errados em nossa eterna avaliação sobre quem é quem!