O Brasil e as Commodities, por Ozires Silva
Articulistas de várias partes do mundo têm colocado que o Brasil deveria se especializar na venda de commodities ou de produtos primariamente processados e, mesmo sem explicitar com clareza, propõem que deveríamos deixar nosso país longe dos produtos de alto valor agregado, que tem sido o propósito das nações tradicionalmente desenvolvidas e dos novos emergentes, como a Coréia do Sul e a China. Em outras palavras, exportarmos a alguns centavos de dólar por quilograma e importamos a vários milhares de dólares.
É nítido o sucesso mundial dos produtos complexos, intensivos em equipamentos e componentes, como computadores, veículos, dispositivos vários de automação industrial… Eles não somente aumentam o valor das transações comerciais, como respondem diretamente ao caráter global do atual comércio internacional. Não se aplicam mais os ditames das antigas políticas de conteúdo nacional (de componentes ou de mão-de-obra) e surgem as grandes parcerias ou cadeias produtivas internacionais, culminando em produtos que poderíamos chamar de “mundiais”. Ou seja, contendo componentes fabricados em uma boa quantidade de países.
Neste cenário, parece ficar claro que nenhum país vendedor de commodities terá sucesso e trará melhoria de padrão de vida para seus cidadãos. Não que tais produtos não sejam importantes. Ao contrário, são vitais em todos os aspectos, mas, comercialmente falando, devem ser produzidos e vendidos, fazendo parte de espectros de comércio amplos, com conteúdo dos mais variados.
Hoje, já se tornam comuns produtos produzidos por grandes grupos empresariais, possivelmente com subsidiárias em diferentes locais ou países, carregando marcas fortes e conhecidas, de penetração global. Tais produtos serão entregues para a comercialização de instituições de venda integradas nos mesmos grupos, com a finalidade explícita de agregar as receitas comerciais às de produção. Ou seja, não somente fabricam, mas também vendem!
Conheço bem o caso dos nossos aviões, hoje fabricados e vendidos pela Embraer e, pessoalmente, dediquei-me a chegar a esse modelo vertical, de produção, de marketing e vendas, desde o tempo no qual presidia a empresa. Lembro-me da década dos 1960. Os franceses da Marcel Dassault vangloriando-se de fabricar seus jatos supersônicos – Mirage III – como um produto 100% francês. Naqueles tempos, o Governo Brasileiro colocava como política oficial seus “índices de nacionalização”, insistindo que cada produto deveria conter um máximo de componentes nacionais. Se isso era competitivo, ou não, não era levado em consideração!
Isso não mais acontece. Os aviões da Airbus – consórcio europeu fabricante de produção aeronáutica – estão longe dos 100% de conteúdo local. O que pesa e importa é que o produto seja competitivo. E, para tanto, precisa produzir com base de equipamentos, peças e componentes produzidos ou adquiridos a custos que possam não contaminar o preço final do produto final.
Claramente, na atualidade, a competição é entre países, não mais somente entre empresas, por maiores que sejam. Se cada nação falhar em construir domesticamente um ambiente competitivo, as empresas sozinhas perdem a chance de serem vitoriosas no mercado global da atualidade. Infelizmente, isto não está sendo conseguido no Brasil e nosso país está com sua produção se tornando demasiadamente cara para os padrões do mercado mundial. Temos de corrigir isso, sob pena de sermos jogados para fora da grande demanda mundial.
Artigo divulgado no jornal A Tribuna em 05 de fevereiro de 2012.
Fonte: Divulgação.