O Armagedom Brasileiro, por Samir Keedi
A intenção aqui é fazer um resumo do que vimos falando há anos, para ver se fica entendido de uma vez por todas. Estamos vivendo uma situação insustentável no país da piada pronta – e que praticamente ninguém percebeu, mesmo com nossas denúncias. Aos poucos, alguns até têm se dado conta, mas em nível insuficiente. E não temos certeza de que a real situação brasileira será realmente percebida antes do juízo final.
Antes que nos acusem de catastrofismo, sugerimos reler nossos artigos dos últimos anos, bem como de outros autores consequentes e conhecedores da real situação do grande acampamento Brasil.Nunca fomos otimistas ou pessimistas, nem há que sê-lo em questões econômicas. Somos realistas, enxergamos o que de fato acontece.
A economia é composta de dados e fatos. Mas pode enganar os incautos quando manipulada, o que temos visto o tempo todo. Estamos dizendo, ao longo do tempo, que a situação econômica brasileira, a continuar como está, praticamente não tem futuro. A inflação está fora de controle e não pode ser, em hipótese alguma, a declarada oficialmente. Quem faz compras sabe disso muito bem. Mas, estranhamente, não vemos protestos . Apenas se diz que esse ou aquele preço mudou de patamar. Uma pena esta sina de cordeiro do brasileiro.
A carga tributária nacional também continua além de limites aceitáveis e subindo continuamente. E todos sabem que considerando o que retorna e o que se tem que pagar para ter saúde, educação, segurança, entre outros itens, faz com que ela seja, no mínimo, de 50% a 55% em termos reais e não os “meros” 37% recolhidos.
A taxa de juros voltou a subir, complicando ainda mais o investimento dos agentes econômicos. E ninguém cresce sem investimento. A taxa de investimento na economia brasileira é de 18%, na média dos anos 1995 até 2012. E, qualquer economista de primeiro ano sabe que 20% de investimento é o mínimo para manter tudo igual.
Pelo visto, nossa manutenção e ínfimo crescimento estão sendo dados pela produtividade. Pelo investimento em si teríamos efetiva recessão.
E nosso crescimento médio, entre 1981 e 2012 é de 2,5%. Uma merreca. Caso tivéssemos investimento adequado, conjugado com produtividade, ninguém seguraria o foguete Brasil.
Nossa dívida interna continua galgando posições, quebrando recordes (embora se diga o contrário e o povo, imprensa e economistas acreditem). Faltam calculadoras neste país. Ou saber usá-las.
Todos acham natural uma dívida interna de 65,4% do PIB e que isso seja perfeitamente administrável. Isso é muito relativo. Costumamos dizer aos nossos alunos que o absoluto não existe. Tudo, absolutamente tudo é relativo. Só o relativo dá a real dimensão dos fatos.
Dívida de 65,4% do PIB é administrável quando estável. Não quando é fortemente crescente como a nossa. Para entendimento do que queremos dizer, vejamos a real dívida interna da União (não a divulgada na imprensa). Em 1994 a dívida era de 88 bilhões de reais. Em 2002 já era de 1,1 trilhão de reais. Em 2010 já estava em 2,39 trilhões de reais. Em dezembro de 2012 alcançou 2,89 trilhões de reais. Tudo distribuído da seguinte forma: 1,92 trilhões em poder do público, 879 bilhões em poder do Banco Central e 91 bilhões da dívida externa líquida.
Como se vê, não é um crescimento natural, mas geométrico. Muito, muito além do crescimento do PIB. Isso significa, ceteris paribus, e pelo histórico, uma dívida de cerca de 3,4 trilhões ao final de 2014. Com uma dívida bem além do PIB em 2020, para o qual já previmos o Armagedom em um artigo anterior (“Brasil: buraco 2020”).
A Europa está fazendo água, em especial no caso da Grécia, Espanha, Portugal, Itália e outros com dívidas iguais ou maiores do que a nossa. E, certamente, alguns deles com dívida menor do que será a nossa em 2020.
Qual a chance de mudança? Nenhuma. E é simples entender. Basta ver o histórico e o seu crescimento, de 1994 a 2012. E, também, lembrar que o superávit primário, aquela parcela da arrecadação economizada para pagar os juros da dívida, tem sido cerca de apenas 1/3 do necessário – o que explica o aumento constante da dívida. E essa economia está caindo, e será bem menor em 2013, por tudo que se tem feito e falado. Em 2014, ano de eleições, será um “Deus nos acuda” para poder ganhá-la.
Para isso, a carga tributária continuará crescendo, sem chance de diminuição. O que agrava ainda mais o consumo, com constante redução da renda disponível de cada um.
E sem investimento e consumo, perpetua-se o subdesenvolvimento e a quase estagnação ou, pior, vem a estagflação.
A dívida já é hoje impagável, pelo quem vimos acima. Não é difícil imaginar o quadro com ela acima do PIB em 2020. Não é catastrofismo, é realidade. Quem tem olhos a enxergue. Quem tem calculadora faça cálculos. Quem tem juízo faça alguma coisa. Ajudem-nos nesta batalha em que estamos quase sozinhos há anos diante da descrença quase geral. Será o Pré-Sal a luz no final do túnel, quando o mundo está querendo enterrar o petróleo como energia? Vamos continuar andando na contramão como temos feito?
Artigo divulgado no Diário do Comércio de junho de 2013.