Levar vantagem em tudo, por Samir Keedi
A vantagem é o mantra no Brasil. É só no que praticamente todos pensam. Estar sempre à frente, não importa o preço. Levar alguma vantagem, por menor que seja. Perguntamo-nos se isso, algum dia, mudará em nosso país. Entendemos que muitos, como nós, pensam no assunto. Tentando entendê-lo e de onde terá vindo. Por que isso ocorre. Se é intrínseco ao brasileiro, se nunca será perdido. E que pode explicar o subdesenvolvimento e a draga em que o país se encontra moralmente. Talvez até seja. Coisa vinda lá de trás. Que ficou enraizada em nossos costumes, não havendo mais como desencavar. De nossa parte entendemos que sim. Ou quem sabe culpa da estratosférica carga tributária. Com elevadíssimos impostos em cada mercadoria. Dos mais altos do mundo absolutamente. Bem como em termos relativos com relação à renda per capita e salários pagos. Mas isso é relativamente novo. Vemos nossos representantes públicos esquecendo-se de quem os elegeu.
E a quem devem se reportar. E tratando os eleitores e não eleitores desta nação como objetos. Bem como os objetos da nação como cosa nostra, sempre se levando vantagem em cima de todos. “Ó pátria amada, idolatrada, salve! Salve!”. Por favor salve-nos. Cada um de nós faz a mesma coisa em qualquer lugar. E isso pode ser visto diuturnamente no nosso trânsito. E podemos constatar o mesmo em estádios de futebol. Em filas. E onde mais se quiser procurar. O fato é farto em exemplos. O mesmo constatamos quando a questão é a solidariedade, o amor, o carinho, a disponibilidade. Até nisso alguns, às vezes (sic) aproveitam-se para tirar vantagem. Nem parece que “teus risonhos lindos campos tem mais flores; nossos bosques têm mais vida, nossa vida no teu seio mais amores”. Mais amores (sic). E quanto àquilo que realmente deveria interessar a todos, para deleite geral de cada brasileiro e melhoria de seu bem-estar físico e econômico, que é a questão econômica, a justiça e a liberdade? Nada. Apenas os governos das diversas esferas levando vantagem em tudo. Muitas vezes para proveito próprio, como se povo e governo fossem distantes e de esferas diferentes. De outras galáxias.
E os prezados e caríssimos cidadãos, motivação de qualquer ato. Como está seu consumo? Não se dá muita atenção a isso, aceitando-se tudo. Sabe-se lá de que razões a razão se vale. Quanto a essa questão física e econômica, cada cidadão deveria, pelo menos, gostar um pouco mais de si próprio, e defender melhor seus direitos. O cidadão tem que ser o fim de qualquer coisa, não ter simplesmente um fim. (sic). Não podemos entender o que se espera, por exemplo, para o povo impor a sua vontade sobre um crescimento econômico adequado e que favoreça a todos. Levando a todos um bem-estar geral e melhorando as condições de vida de cada um. Parecem todos dormentes, já há muito tempo.
Seria bom entender porque esse estilo de levar vantagem não merece a atenção de todos, ou pelo menos dos que poderiam fazê-la servir a todos. Seria, conquanto se desejasse, uma forma de se eliminar o levar vantagem em tudo. Já que todos teriam tudo ou quase tudo. Até porque, cada um estaria ocupado e preocupado em melhorar o que pudesse, servindo a todos. Povo desta nação grande, unidos será impossível não fazer desse país uma grande nação. Basta querer e lutar. Basta trabalhar nesse sentido. Basta dar um basta a tudo o que não se deseja mais. É hora da Primavera Brasileira. Ajude a fazer com que não somente os preços sejam internacionais, mas que os salários, os ganhos, sejam internacionais. Ajude a fazer parte das nossas vidas o bônus e não apenas o ônus. Que, aliás, é praticamente só o que acontece neste canto do planeta. Vista a indumentária da razão. Use o veículo do crescimento, seja atropelado por ele como temos sido atropelados pelos acontecimentos de todas as lógicas. Em que mal os conseguimos acompanhar em face da velocidade do surgimento de novos fatos a cada instante.
Façamos com que isso ocorra na economia e na nossa vida. De modo que mal consigamos acompanhar a velocidade dos novos fatos positivos. Vamos lá, esta é a melhor forma de se levar vantagem em tudo. Porque esse é um direito nosso. Levar vantagem por motivos gloriosos, não escusos. Brasil, não continues “deitado em berço esplêndido, ao som do mar e à luz do céu profundo”. Nem tampouco esqueças que “um filho teu não foge a luta”. Brasil, viva “um sonho intenso, um raio vívido de amor e de esperança que à terra desce”. Faça desta uma “terra adorada, entre outras mil”. Ouça novamente das “margens plácidas de um povo heróico um brado retumbante”, e solte também seu brado. Justifique lá na frente, no hino, a “paz no futuro e glória no passado”, pois o final da frase nunca se viu.
Aristóteles: Somos o que repetidamente fazemos. A excelência, portanto, não é um feito, mas um hábito.
Artigo divulgado no jornal DCI, em 12 de abril de 2012.
Samir Keedi é economista, especialista em transportes internacionais, professor e autor de vários livros sobre Comércio Exterior, Transporte e Logística.