Estabilidade e Controle, por Ozires Silva
Estes dois conceitos físicos, a estabilidade e o controle, são fundamentais na natureza e se apresentam como importante para qualquer coisa que se desloque, inclusive os aviões. A estabilidade é em geral definida pela capacidade de um sistema retornar ao seu equilíbrio inicial sempre que sujeito a uma excitação externa que altera suas condições de repouso ou de movimento constante.
Já o controle é o que se coloca em jogo para alterar uma condição de estabilidade, sendo limitado em geral por aplicações de força e produzindo de deflexões. Na realidade o controle deve ser algo sempre limitado por razões estruturais ou de segurança. Estes dois conceitos foram claramente entendidos por Santos Dumont, quando para efetuar seu clássico vôo do mais pesado do que o ar em 23 de Outubro de 1906, em Bagatelle na França, pendurou seu 14-Bis, no seu Balão 14. Buscava ele encontrar o centro de aplicação das cargas de gravidade para garantir o posicionamento correto no seu avião pioneiro, de modo a conseguir a estabilidade básica, essencial para um vôo seguro.
Procurando ver o assunto sob o ângulo da sociedade brasileira, é curioso notar que estas características básicas, ditadas pela Natureza, estão presentes em muitas outras aplicações e não somente nos veículos de um modo geral. E exercem um poder crucial na evolução dos sistemas sociais aos quais estamos submetidos.
Esta idéia vem do sentido que parece encontrarmos quando nos referimos à sociedade moderna, trazendo a tona a necessidade de contarmos com fenômenos, como a estabilidade e o controle, para garantir o funcionamento da vida das nações, regiões ou cidades. De um modo geral nos governos e no desempenho das organizações, e mesmo dos indivíduos, tudo passa pelo complexo emaranhado de influências e de obrigações que nos atingem todos os dias, no mundo moderno no qual vivemos. Como seria bom contarmos com a estabilidade, regulando os requisitos legais e sociais, assim como a natureza faz excelente o seu desempenho, em que pesem as catástrofes, possivelmente até necessárias para conservar o bem maior. Já o controle, longe do que os governos desejam e mesmo praticam na atualidade, não parece responder aos princípios básicos dos fenômenos físicos descritos.
Tudo isso deve nos trazer reflexões, em face do que tem acontecido nesta parte do mundo. Ainda que muitos possam argumentar que se esteja exagerando, na atualidade, nosso continente, com todos seus países da América Latina, inclusive Brasil, estão se atrasando com intensidade. Se for trazido como comparação, somente o exemplo chinês, pesquisas recentemente efetuadas indicam que já há na China uma mudança que não poderíamos pensar há pouco. Muitos falam que de comunista a China nada mais tem. Apoiada por regras claras e racionais, por um sentido global de colaboração entre as autoridades e o setor produtivo, a grande nação asiática conseguiu uma soma de resultado que surpreende a todos.
Se tomarmos como exemplo a aviação brasileira, o nosso país parece fugir do real. Que precisamos de aviões para viajar, para se movimentar, para gerar oportunidades e negócios, acredito que ninguém possa negar. Numa nação continente, como a nossa, com uma infra-estrutura de transporte e mobilidade por construir, salvo algumas pequenas exceções, trabalha mais sobre restrições do que realizações. O resultado, como comentou recentemente, um conhecido e respeitado analista norte-americano, “o Brasil tem uma aviação bem menor do que a necessita”.
Aí vem a pergunta! Vamos continuar assim, sem reformas e mudanças? A resposta não está somente com o Governo, mas também com a sociedade, pois é difícil carregar o volume de preocupações que tal pergunta desperta. No mundo global, aquele que não embarcar nas tendências já reais, perderá inexoravelmente a capacidade de competir no mercado mundial, passando a correr o enorme risco de condenar seus descendentes à pobreza no mundo competitivo que já existe.
Artigo divulgado para a revista Vale Paraibano, de São José dos Campos