A vida do cidadão começa no município, por Ozires Silva
Há algumas perguntas que possivelmente jamais poderemos responder. Por exemplo, por que os seres humanos são tão diferentes dos animais, pelo corpo que temos, com características próprias e diferenciadas, pelo nosso cérebro, também diferente e, certamente por muitos outros atributos que reconhecemos. No entanto, após o nosso nascimento, há um aspecto não garantido pelo bem-sucedido processo de nascer. Ou seja, não é fácil vencer na sociedade humana, criada por nós mesmos, Esta capacidade, que podemos chamar de talento e de especialização, somente pode ser atingida pela Educação. No entanto, no nosso país parece que estamos falhando em construir cidadãos ativos, produtivos e vitoriosos, pela nossa pouca habilidade de conceber e montar um sistema educacional de sucesso, pois, como resultado, constata-se que grande parte de nossa população não goza da qualidade de vida que podemos aspirar para todos.
Muitos já disseram que o Brasil somente alcançará níveis desejáveis de justiça e desenvolvimento sócio-econômico se propiciar à sua população um nível de qualidade diferenciado de Educação, que precisa estar ao acesso de cada habitante do país. Infelizmente, medido por vários parâmetros comparativos, colocamo-nos distantes dos padrões internacionais. Em vias de ser a 5ª economia mundial, nosso país ocupa a 75ª posição no IDH – Índice de Desenvolvimento Humano (2009) e 56ª no Índice de Competitividade (2010), o que demonstra o enorme desafio que teríamos pela frente, se nos decidirmos trabalhar para reduzir a distância entre o econômico e o social. As graves deficiências educacionais constituem uma grande desvantagem competitiva do país. Continuamos com 70% da nossa população como analfabeta funcional, condenada a trabalhar em funções simples e de baixa remuneração, incapaz de ter acesso a moradia, saúde e qualidade de vida que sejam decentes.
Os países, catalogados entre os emergentes, como Coréia do Sul, China, Índia e outros que deverão integrar o mesmo grupo em breve, graças a planos educacionais competentes de longo prazo, têm conseguido dar grandes saltos. Nas últimas décadas, vêm mostrando avanços significativos, tornando-se capazes de gerar riquezas internas e externas, sempre se baseando em inovações tecnológicas enquanto nós permanecemos vendendo insumos e commodities básicas, como expressivos itens de nosso balanço de comércio exterior.
A Coréia do Sul era uma das nações mais pobres do mundo, muito atrás do Brasil nos anos 60. Porém, investindo decisivamente na educação de seu povo encontrou e consolida já invejáveis níveis de progresso e desenvolvimento. Hoje, o seu PIB per capita é o triplo do brasileiro, graças a educação que gerou altas e avançadas tecnologias competitivas. As marcas coreanas estão no quotidiano dos brasileiros. O mesmo acontece com a China. As marcas nacionais praticamente não existem na Coréia ou mesmo no mundo. Em que pese esse preocupante quadro geral, temos também exemplos no Brasil, que podem nos estimular a avançar.
Com a instalação do ITA – Instituto Tecnológico de Aeronáutica, a primeira escola do país a formar engenheiros aeronáuticos (1950), foi possível criar uma indústria aeronáutica, de projeção mundial, em São José dos Campos, SP, trazendo um progresso significativo para a cidade e para seus habitantes. A EMBRAER – Empresa Brasileira de Aeronáutica SA, beneficiária de uma base educacional montada pela FAB – Força Aérea Brasileira, transformou-se na terceira produtora mundial de jatos comerciais, os quais são vistos e utilizados em centenas de linhas aéreas de quase 90 países.
Poderíamos ter muitos exemplos, como a iniciativa que sacudiu São José dos Campos, se, além dos investimentos que se faz agora em educação, buscássemos permanentemente uma real prioridade ao processo de criação de cidadãos capazes, constituindo populações talentosas e competentes. Porém, em plena era da sociedade do conhecimento, nos conformamos em comprar tecnologia e importar o que poderíamos aqui produzir e vencer no comércio nacional e mundial. Assim, ao invés de ganharmos na competição entre nações, estamos condenados a pagar bilhões em custos de marcas, licenças de produção ou royalties, falhando em acumular resultados que poderiam reduzir nossas enormes de desigualdades.
E tudo começa no município, nas cidades do interior deste Brasil imenso. Temos de iniciar uma revolução e não esperar que ela surja nos gabinetes de nossa capital, em geral distante do grande Brasil que constrói a riqueza nacional. Se cada dirigente público, de cada rincão, em cada momento, pudesse parar um pouco e pensar na enorme responsabilidade que tem perante o futuro, certamente, como está intensamente acontecendo no mundo que cresce e se desenvolve, com rapidez poderíamos ter novos horizontes. Sabemos que temos bons e inteligentes homens públicos os quais, simplesmente precisam saber aonde querem chegar. Conhecendo o destino, é mais fácil encontrar os caminhos!
Artigo divulgado pela Revista Prefeitos & Gestões em novembro de 2011