A Confiança, por Ozires Silva
Sempre que algo não funciona é comum se ouvir, com uma ponta de ressentimento, afirmações como estas: “Só neste país acontecem coisas assim”; “O Brasil nunca vai dar certo”. Talvez seja necessário lembrar o quanto de progresso já nos foi uma realidade, desde quando começou a entrar em cena os falsos dilemas da oposição entre o desenvolvimento e a estabilidade econômica, do dirigismo e da liberdade para empreender e crescer.
Não se entende por que o temor da volta da inflação infunde autêntico pânico, pelo menos nas altas esferas da República. Igualmente pesa o hábito de atribuir nossas vicissitudes mais aos eventos de âmbito internacional do que à nossa disposição para superar os impasses domésticos. Como se nada disso bastasse, criou-se uma espécie de cultura de fortalecer mais os problemas e impossibilidades do que as soluções e possibilidades. Dizem que gostamos mais de diagnósticos do que das ações corretivas.
O desenvolvimento é uma conquista. É a marca da vontade que faz as coisas acontecerem. E depende da confiança. Dos Governantes nos cidadãos e vice-versa. Parece que ambos nos faltam nestes momentos. Sob o clima da confiança, há aprendizados, tentativas e investimentos. Parece que isso não está na pauta das discussões. Discutir desenvolvimento ou não é um debate que não deveria se aplicar num país que já fez o mais difícil, pois controlou a inflação. Já se passaram quase duas décadas desta vitória no terreno de uma moeda, que perdia valor a cada dia. O dilema agora é outro: crescer de maneira sustentada. Ou seja, sem choques com o meio ambiente. Este é o debate a merecer atenção. O debate certo na hora certa.
Ser desenvolvimentista nos dias atuais é pensar num modelo que alie o convívio saudável com a natureza e com a produção de riquezas. Não se trata apenas de pensar somente em produtividade, redução de custos, eficiência operacional ou investimentos, sejam eles públicos ou privados. É imperativo pensar em tudo isso e ir além: aproveitar o imenso patrimônio ambiental para voltar a crescer. O Brasil possui as maiores reservas florestais e de água doce do planeta. Por que não transformá-las em fontes de atração de capitais e, com isso, deflagrar um novo ciclo de desenvolvimento com a participação de todos? Não somente o desenvolvimento declarado pelas autoridades, com o sentido de que as boas ideias somente possam vir do Governo e devam estar em sintonia com a batuta governamental?
Ser desenvolvimentista é também defender uma vasta reforma educacional que envolva da educação primária à educação universitária, sem perder o foco na educação técnica. O mundo hoje é crescentemente competente e a reforma educacional precisa ter o mérito de fazer o país olhar para frente, tornando o cidadão mais competente do que o seu concorrente mundial. Não pode ser um desafio colossal longe do nosso alcance. Com uma boa base de confiança, isso é mais do que possível. A superação dessa real desconfiança do Poder Público sobre o setor civil da nação encontra-se na raiz de estigmas que temos de afastar de uma vez por todas.
Nos séculos 18 e 19, Portugal distanciou-se da Inglaterra, França e Alemanha porque fechou os olhos à revolução tecnológica. O Brasil não pode repetir o mesmo erro no século 21. Precisa investir em pesquisa, centros técnicos de excelência e transformar os resultados em incentivos ao empreendedorismo. São caminhos para curar os males do pessimismo e dar novo alento à magia realizadora da confiança.
Artigo divulgado pelo jornal A Tribuna em 29 de julho de 2012.