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PAC(quinho), por Samir Keedi

Crédito Divulgação

Já escrevemos no passado sobre o famigerado e falso PAC(quinho). Mostrando sua falsidade e inexistência. E o quanto se enganou o brasileiro com isso.

 

E o pior é que todos, governantes, economistas, políticos, empresários, povo, todo mundo. Mas há, obviamente, os que não foram enganados. São tantos os esclarecidos sobre o assunto que ousamos vaticinar que talvez seja possível completar a lotação de alguns fuscas.

 

Segundo editorial da Folha de S. Paulo de há poucas semanas, os gastos do Pac(quinho) deram marcha a ré de 2011 para 2012. De “extraordinários” 9,6 bilhões de reais para “extraordinários” 8,4 bilhões de reais. Menos de 0,2% do Produto Interno Bruto (PIB). Assustador. O investimento nos transportes foi reduzido bem mais, de 70% do Pac(quinho) para 52% dele: 18 pontos percentuais, ou 26%. Nossa matriz de transportes e nossa logística já são, de longe, o piore possível entre os países que contam.

 

E ainda reduzimos o investimento. Enquanto nossos concorrentes diretos, no BRICS, que já dissemos muitas vezes é apenas “RICS” investem entre 4 e 5% da FIB – felicidade interna bruta na intraestrutura, nós investimos apenas 0,49%. Estamos em vias de mais redução? Parece que sim. O Fórum Econômico Mundial de 2011 já mostrou, como já colocamos em artigos, que estamos classificados em 91º lugar em ferrovias, 110º em rodovias, 122º em aerovias e 130º em portos. Isso, na análise de 142 países apenas.

 

 

Já estamos na rabeira do transporte e da logística mundial, e continuamos trabalhando para piorar. Dá a impressão de que queremos a última colocação, para sermos o melhor pior? É o que parece. Mas, não é só quanto À infraestrutura. Nada funciona no PAC(quinho). Que, aproveitando da oportunidade, reiteramos, uma vez mais, nunca existiu. Já colocamos que ele é a maior enganação econômica da história do “nunca antes neste país”.

 

Apenas foram pegos e juntados todos os investimentos dos quatro anos seguintes, agrupados num único bloco, e chamados de PAC(quinho). Nada foi mudado, nada foi acrescentado. Os investimentos e valores eram os mesmos. Só que agora eles eram bem maiores em valores. Quatro vezes maiores, sendo igual [sic], o que levou todos aos “equívocos” ocorridos.

 

Em realidade, o que se fez nada mais foi do que o seguinte. Você e sua esposa se sentam todos os meses para fazer o orçamento, e o marido – poderia ser a esposa, tanto faz – diz à esposa, ‘Benzinho, temos um rendimento de 3.000 reais por mês para gastarmos’. E ela conclui que não há muito que fazer, não há muita sobra.

 

Não dá para trocar aquele sofá e as cortinas. Num determinado janeiro, o marido, todo pimpão, chega à esposa e diz, ‘Benzinho, temos uma renda anual de 36.000 reais’. Ela então conclui – poderia ser ele – que o dinheiro está sobrando desta vez. Afinal, 36.000 é “um número” respeitável. Benzinho, vamos trocar o sofá e as cortinas, agora dá. Em realidade, nada mudou. Tudo continuou como dantes no quartel de Abrantes. São os mesmos 3.000 reais mensais. O número é tudo.

 

Foi exatamente isso que o governo fez, e todos acreditaram que a vida havia melhorado, que o investimento iria crescer agora etc. etc. Do que nos lembramos, apenas nós falamos sobre o assunto duas vezes em artigos, e centenas de vezes em salas de aula. Está certo que não lemos tudo que pode ter sido publicado na imprensa brasileira. Mas, do que lemos…!

 

E até hoje se fala no PAC(quinho) como se ele existisse e não fosse apenas um aglomerado, uma fantasia. Com os mesmos valores, já que à época nos demos ao trabalho de fazer os cálculos sobre os investimentos previstos e disponíveis. O Brasil é um país em que a maioria do povo gosta de ser enganada. Faz bem ouvir coisas boas e grandes números e valores. Notícia ruim, ou a realidade, não interessa. E La nave va.

 

Pior, porém, é que as coisas nem assim andaram. Quem acompanhou os últimos anos como deveria, percebeu que quase nada foi feito. E, pior, que citamos na ocasião, com apenas 11% do PAC(quinho) 1 prontos, foi lançado o PAC(quinho) 2. E, pior ainda, no 2 estavam as coisas que haviam sido previstas e não realizadas no 1. E todos voltaram a ficar contentinhos, a festejar o governo.

 

O resultado todos temos visto nas eleições. E os resultados nefastos, na vida de cada um de nós. Alguns de nós sabiam disso. A maioria, porém, continuou campeã olímpica de natação, e nada, nada, nada.

 

Gostaríamos de saber até quando isso irá. Se considerarmos as últimas décadas, em que apenas involuímos, sabemos qual será o resultado daqui a alguns anos. Será, fatalmente, o “Brasil: Buraco 2020”, título de um dos nossos próximos artigos, já pronto e aguardando sua vez.

 

Brasil! Brazil! Brésil, até quando? Será que todos acordam, menos nós? Onde está tanto erro? Será que no Hino Nacional, em que estamos eternamente deitados em berço esplêndido? Será que precisaremos voltar ao início da república, mudar o hino? Ou começar de novo, lá de trás, no século XIV? Parece que sim.

 

E, a esta altura, não adianta mais querer, como se dizia há algumas décadas, apagar a luz, fechar e devolver a chave a Portugal. Eles estão longe de poder. Aliás, será que aceitariam? Não. Então, é conosco mesmo: temos que agir, fazer algo, mudar a realidade eterna até agora, e fazer um novo País, deixando para trás o grande acampamento que somos.

 

Artigo divulgado pelo jornal DCI em 13 de setembro de 2012.