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Submissão até quando?, por Samir Keedi

Créditos: Divulgação

Cinco séculos e sempre o mesmo sofrimento. O que será que ocorre com esses nossos maravilhosos subcontinentes? De que maneira nos criaram? Ou de que maneira nos conduzimos? América, América querida, até quando? Tudo bem que se possa considerar que começamos de modo errado, dominados pelo Velho Mundo, e eternamente subjugados.

 

Mas após meio milênio já não há mais justificativa plausível, pelo menos sob nosso ponto de vista, talvez até muito simplista.

 

É tempo mais que suficiente para mudança de rumos. Que o diga o “grande irmão” do norte, que fez, há muito, o caminho que desejamos, a sua lição de casa.
Qual será a grande diferença, se a matriz é a mesma, europeia? É claro que se pode dizer sempre que as melhores matérias-primas ficaram no Velho Mundo. Ou que se dirigiram ao norte, não ao sul ou centro. Ou que tudo que se desenvolve está no Hemisfério Norte, como se pode reparar ao estudar o mapa-múndi, o que parece estranho.Pode até ser, mas isso não deve mais servir para justificar tão pífio desempenho de nossos países, suas economias e suas políticas ao longo desses mais de 500 anos.

 

Em que todos juntos somos apenas pequena parcela do Produto Interno Bruto (PIB) dos Estados Unidos. Sabemos que somos uma mistura de muitos povos, aqueles que cá já estavam e os que vieram, não apenas do continente, mas também de fora. E com certeza veio muita gente boa, com condições de fazer dos demais países americanos algo melhor do que o que temos. Entendemos que isso é uma vantagem, e um mix deveria ajudar a melhorar, não a piorar.

 

 

América, América querida, até quando? Quando pensarás grande? Esses dois subcontinentes, até onde sabemos, são autossuficientes em matéria-prima e em território agricultável. Aqui temos a maior floresta do mundo e boa parte das reservas de água, e só o Brasil tem cerca de 20% da água do planeta. Temos petróleo, temos autossuficiência em muita coisa. Assim, fica difícil explicar o que ocorre e por que a situação não muda, não melhora, ao contrário.

 

América, América, parece que nada justifica a eterna dependência. Será que um grande acordo entre os latinos poderia mudar alguma coisa? Um acordo de efetiva cooperação, sem rivalidades, pensando que a rivalidade é o mundo e não nossa América, talvez pudesse fazer a grande diferença. Para isso, é claro, deve haver respeito mútuo, deve-se criar um grande consórcio. É preciso instalar uma grande cooperação, tratar-se como hermanitos que somos todos, latinos.

 

América, América, por que se deixa subjugar? Será que não há orgulho, dignidade, vontade de ser desenvolvido? Faça valer seus sentimentos, sua diversidade. A união pode fazer milagres. Deixe o milagre ocorrer. Dê-lhe uma chance. Não entendemos o que impede países com recursos naturais tão abundantes de se desenvolver. Em especial, conforme já citado, abundância de terras, e mais especialmente, terras férteis, e o mundo precisa comer, e vide o Brasil para isso. Parece que nada justifica não conseguirmos desenvolver este pedaço de terra deste maravilhoso planeta azul.

 

Não se propõe aqui o abandono ou menosprezo ao resto do mundo, que a globalização visível e multimilenar que o mundo vive é inexorável e indestrutível. Ainda bem. O que se propõe é uma atenção maior aos problemas domésticos desses dois subcontinentes. América, América, até quando? Cadê nosso orgulho pelo que temos e que podemos ser? Acorde, viva e morra dignamente. Povo americano, esqueça seus governantes. Se não funcionou com eles, pense em você, no que merece e pode ter. No que seu território oferece e quem usufrui de tanta riqueza que é sua. Não podemos mais ser pobres e dependentes, apenas um fornecedor de matérias-primas.

 

América, América, acorde. Chega de rivalidades, chega de ditaduras, de certa falta de liberdade. Não temos inimigos, pelo menos não aqui, nenhum vizinho assim. Apenas países que sofrem dos mesmos males e também querem se libertar. América querida, não há mais que esperar, é hora de começar, e hoje é um bom dia.
No entanto, devemos lembrar que, além de não haver união, ainda há a atual tendência que diversos países têm seguido há alguns anos. Em especial nossos vizinhos, sem esquecer o nosso, o que não ajuda em nada. Estão se fechando cada vez mais para o mundo, nacionalizando, expropriando, seprotegendo.

 

A liberdade de imprensa cada vez mais ameaçada. De modo camuflado, também as liberdades individuais. Estamos esquecendo que o mundo é cada vez mais uno e autodependente, e a atual crise econômica mundial não deixa nenhuma dúvida sobre isso. Ninguém mais é uma ilha, como pensam nossos “gloriosos” governantes – que, aparentemente, parecem caminhar para o isolamento e, mais grave, rumo a novas ditaduras, a menos que nos enganemos muito em nossa avaliação. Entendemos não ser o caso. América, América, descubra quem és e qual o seu glorioso caminho, independentemente de quem te dirige.

 

Artigo publicado no jornal DCI de 16 de janeiro de 2013.