A logística brasileira e as concessões, por Ozires Silva
As menções generalizadas sobre as insuficiências da logística brasileira, hoje reconhecidas como uma das mais caras e ineficientes, têm sido colocadas como resultado direto da falta de investimentos na infraestrutura nacional. É de se chamar atenção que a logística teria seu grau de responsabilidade na inflação nacional e nas perdas que estamos observando no balanço comercial externo, com crescentes déficits ao longo dos últimos anos. Estradas de rodagem mal conservadas, a ausência de ferrovias e de sistemas de navegação, tanto de cabotagem como de canais fluviais, e as lentas e custosas operações portuárias têm sido o foco central das reclamações. A boa notícia é que estamos nos habituando a assistir um crescente interesse da iniciativa privada de assumir as operações de infraestrutura, e também os investimentos necessários para mudar este cenário.
A legislação brasileira está apresentando uma capacidade acelerada de envelhecer, mostrando-se crescentemente inadequada para se equivaler ao rápido e dinâmico desenvolvimento mundial. Uma conversa com as cúpulas do nosso governo sugere ênfase no processo de se acelerar que concessões públicas sejam colocadas para a área privada, como alternativa direta para reverter o pessimismo depois do crescimento econômico fraco no início do ano e de o Banco Central (BC) acelerar o passo do aumento da SELIC.
A agenda do Palácio do Planalto prevê a publicação dos editais das concessões mais tardar até agosto, com as licitações realizadas até dezembro. Não há receios de que os grupos com maior experiência em cada área, além de capacidade financeira para assumir os volumosos investimentos requeridos, algo como US$ 200 bilhões, deixem de apresentar propostas, depois do aumento das taxas de retorno das operações e ajustes das metas de desempenho.
À margem das concessões de logística, agregou-se áreas de exploração de petróleo do pré-sal, na Bacia de Santos. Obviamente, o resultado desses investimentos, tanto das concessões quanto das novas áreas de exploração de petróleo e gás, pode impactar gradativamente no Produto Interno Bruto (PIB). Mas se espera de tais eventos uma sacudida de ânimo geral, devolvendo ao país o foco das atenções dos empresários e dos mercados internacionais.
O que se espera é agilidade e flexibilidade das autoridades para proceder com regras licitatórias melhores, para que as intenções de concessões não sejam frustradas, como ocorre. Sabemos que negócios somente prosperam em clima de boas expectativas.
O valor do dólar aparece como um elemento aliado para favorecer as exportações e ajuda o BC no combate a desinflar a inflação, o que ajudaria no quadro, que parece real da desaceleração da China, atualmente um grande parceiro comercial do Brasil. Todavia encarece as importações, atingindo o suprimento externo de componentes à produção doméstica de manufaturas e ameaça as finanças das empresas endividadas em dólar.
Assim, o trabalho institucional para o funcionamento dos setores produtivos mostra o quanto são importantes regras, normas e regulamentos para a sociedade tomar suas decisões. O equilíbrio do sistema nervoso das atividades econômicas precisa ser estável e de longo prazo, justificando investimentos e retornos econômicos. Infelizmente, as intervenções erráticas do governo no cenário empresarial não contribuem para o êxito das próprias mudanças propostas pelas autoridades. A ideia é que todos acreditem pois, assim, tudo fluirá melhor!
Artigo divulgado em 30 de junho de 2013 no jornal A Tribuna